quinta-feira, 19 de março de 2015

Já consigo enxergar uma luz...*

Fiquei muito tempo naufragada no meu EU existencial, não sabia se era dia ou noite, na minha rotina robótica com pensamentos dos mais variados fui sobrevivendo entre a dor e a esperança de dias melhores. Cada noite era uma promessa de um novo amanhecer mais seguro, mais livre, mais meu. E nesse estado de alma me lancei na fé das mais diversas. Busquei amparo espiritual e, quase como uma beata, clamava cura a Deus. Meu refúgio mais sublime e profundo foi o amor e a acolhida que recebi. Sim!!! Tenho certeza de que o amor cura e alivia a dor, dando um norte para aquele que sofre. Por maior que fosse o sofrimento arrancava forças para mergulhar no meu trabalho que me dá muito prazer. Até minha paixão dominante “a dança” ficou em segundo plano. Não porque eu quisesse, mas porque percebi que não estava entregue o suficiente para desfrutá-la.
E agora que consigo enxergar um filete de sol, um brilho no fim do túnel, minha energia está sendo renovada. Minha fé está cada vez maior e a certeza de que cuidando do corpo, da mente e do meu espírito repousarei em verdes campos, de contentamento e mansidão. A paz começa a chegar bem de mansinho, invade cada uma das minhas células trazendo luz para meu interior, a vida vai se revelando novamente aos poucos e eu vou recuperando aquela alegria que pertence a minha real singularidade.
Tenho consciência de que tudo é muito delicado, precisarei de mais paciência para me recompor por inteiro. Entretanto, para quem esperou tanto tempo para ter a coragem de se desnudar e mergulhar na sombra para aprender a lidar com ela, o tempo é o que menos importa. Há muito tempo aqui dentro e também lá fora. Clareando cada sombra irei recuperando um pouco mais de mim. Os pedaços estilhaçados já não me assustam mais. A coragem e a confiança de estar bem acompanhada me faz querer reconstruir cada pedaço que sobrou. O que não sobrou joguei fora com muita lucidez, guardei muitas coisas desnecessárias no meu mais profundo interior. Minha faxina existencial está se dando por completo, não para me tornar outra pessoa, mas para fortalecer quem eu verdadeiramente sou.


Em momentos de crise se tivermos olhos de enxergar e ouvidos para ouvir descobriremos particularidades de nossa essência que nem imaginaríamos existir. Nas ruas de nossa caminhada existem curvas e desvios, nem sempre devemos seguir em linha reta. Muitos desvios poderão nos mostrar que nossas ideias não são tão complexas quanto imaginávamos. Que a vida pode ser muito mais do que sonhávamos e idealizávamos, basta esperar pelo raio de sol que em algum momento voltará a brilhar. 

Vanessa Ribeiro
Professora, atriz, dançarina e filósofa clínica

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